terça-feira, 10 de junho de 2008

Comentário Apologético sobre a Santa Ceia

Comunhão

(réplica da Igreja Católica Apostólica Romana/ICAR)
Acusação: Por que os católicos comungam somente sob as espécies do Pão, e os protestantes sob espécie de Pão e Vinho, como Jesus fez na última ceia?

Resposta: A diferença entre católicos e protestantes é essencial, e bem maior do que parece:

a) Os protestantes desligaram-se da sucessão dos Apóstolos, por isso seus pastores não recebem o sacramento da ordenação sacerdotal e não têm nenhum poder espiritual a mais do que seus fiéis. Portanto, eles “presidem” apenas “a ceia”, como memória – recordação da ULTIMA CEIA de Jesus. E nela comem simples pão e bebem simples vinho, acreditando que, por esta piedosa recordação, Cristo lhes comunica sua graça e o seu amor.
b) Os sacerdotes Católicos recebem no Sacramento da ordem, o sacerdócio ministerial (realmente distinto do sacerdócio comum dos fiéis, recebido no batismo), pelo qual realizaram na Santa Missa o duplo efeito: 1º - celebraram a última ceia de Jesus; 2º - (Dentro desta comemoração, fazem o que Jesus fez nela antecipadamente): tornam, presente (aqui e agora) o sacrifício de Jesus na cruz, consumado pela separação do sangue esgotejado do corpo, simbolizando pela consagração separada de pão e vinho. É isto que Jesus ordenou aos Apóstolos e seus legítimos sucessores no sacerdócio, com as palavras: “Fazei isto em memória de mim”. (Lc 22.19).
Este sacrifício de Jesus na cruz, perpetuado em cada Santa Missa (que falta aos protestantes) - sendo a principal fonte de todas as graças – é de máxima importância. Por isso todos os católicos têm a grave obrigação, pelo 1º mandamento da Lei da igreja, de participar da Missa inteira nos domingos e festas de guarda (quando há possibilidade).
c) As provas bíblicas sobre a real presença de Jesus na Eucaristia são as seguintes:

a) Os evangelhos foram escritos na língua grega, de alta cultura, em que existem muitas expressões para os verbos “simbolizar, significar, representar, lembrar, etc”. No entanto, os três evangelistas e S. Paulo, ao descreverem a Última Ceia de Jesus, usam exclusividade a palavra “é”: Isto é o meu Corpo; este é o cálice do meu sangue”. (Mt 26.26; Mc 14.22s; Lc 22.19s; ICor 11.23s)

b) Jesus falava ao povo simples, com palavras claras e compreensíveis. Quando usava comparações, p.ex.: “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo”; - ninguém reclamava, e ano esperava ver os apóstolos transformados em imagens de sal ou de luz. Quando, porém, Jesus lhes disse: “este é o pão que desceu do céu, se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que Eu vos darei é a minha carne (imolada) pela vida do mundo”. (Jo 6.50-51) – então os judeus o entendem verbalmente e reclamam dizendo: “Como pode Ele dar-nos a comer sua carne?” E Jesus reafirma: “Em verdade, em verdade eu vos digo: se não comerdes a carne do filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós... pois a minha carne é um verdadeiro alimento e o meu sangue é uma verdadeira bebida. Quem come deste pão viverá eternamente”; (Jo 6.52-58). Até muitos discípulos seus o entenderam assim verbalmente, e por isso murmuraram e se retiraram dizendo: “É dura tal linguagem; quem pode escutá-la?” (Jo 6.60-66). Mas Jesus não se retrata, para os recuperar. Pelo contrário, pergunta aos doze Apóstolos: “Também vós quereis partir?”. E então Simão Pedro dá a bela resposta da fé, em nome dos Apóstolos e de todos os fiéis católicos: “Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens as palavras da vida eterna, e nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus”. (Jo 6.67-71). Porém, somente na Última Ceia foi lhes revelada a maneirar de alimentar-se com o Corpo e o Sangue de Jesus, velado sob espécies de pão e vinho consagrados.

c) Outra prova bíblica sobre a verdadeira presença de Jesus na Eucaristia, são as admoestações de S. Paulo aos Coríntios: “e por isso, todo aquele que comer o pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, torna-se culpado do corpo e do sangue do Senhor... Pois quem come e bebe sem fazer distinção de tal corpo. Come e bebe a própria condenação”. (ICor 11.27-29).

e) A Comunhão sob uma ou duas espécies não constitui essencial diferença já que em cada pedacinho de pão e em cada gota de vinho consagrados recebemos Jesus inteiro, vivo e ressuscitado; como consta claramente de suas palavras (Jo 6.51-56): “Eu sou o pão vivo que desceu do céu... e o pão que Eu hei de dar é a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em Mim e Eu nele”. Claro, não é um pouquinho de carne ou sangue que recebemos na santa ;comunhão, mas o “Eu” de Jesus: a Pessoa do Filho de Deus Encarnado – nosso Salvador.
Por isso os primeiros cristãos costumavam levar aos encarcerados pela fé, somente o pão consagrado; e aos doentes que não conseguem engolir um pedacinho da hóstia consagrada, a igreja recomenda administrar algumas gotas do vinho consagrado. E em grupos, menores e bem preparados, pode-se administrar a Santa Comunhão sob duas espécies. O que mais importa é a viva fé, humildade e piedade diante deste Santíssimo Sacramento do Amor! Daí, o 3º Mandamento da Lei da igreja nos obriga: Comungar ao menos uma vez por ano, pela Páscoa da Ressurreição; e recomenda faze-lo em cada santa Missa!

Que pena que pela falta de fé no poder e no amor infinitos de Jesus, tantos “crentes” se afastaram desta “árvore da vida” presente entre nós até o fim do mundo – na Eucaristia; apesar de suas palavras clara: “Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6.53).
Padre Vicente Wrosz

Tréplica
Diante da proposta de réplica apresentada pelo Padre Vicente Wrosz a respeito de comunhão eu começarei a minha tréplica a partir da alínea “a”, onde ele se propõe a fazer uma análise do perfil protestante.
Nessa alínea ele diz que os “protestantes se desligaram da sucessão apostólica, por isso os seus pastores não recebem o sacramento da ordenação sacerdotal e não tem nenhum poder espiritual a mais do que seus fiéis”. O padre Vicente afere a posição dos protestantes e dos seus ministros mediante uma distorcida visão exegética e hermenêutica a respeito do texto bíblico básico usado por eles para defenderem a sucessão apostólica (Mt 16:18-19).
O conceito católico que prega uma sucessão apostólica na pessoa do papa é totalmente antibíblica. O titulo de “apostolo” só pode ser atribuído de uma forma completa aos doze escolhidos por Jesus e a Paulo, se aplicando também a homens que foram cooperadores de Paulo. (At 14:4,14; I Co 9:5-6; II Co 8:23; Gl 1:19)
Os apóstolos receberam da parte de Deus a missão de lançar as bases da igreja para toda a sua existência. Além do mais, os apóstolos precisavam responder a alguns critérios:
a) Tinham que ser diretamente comissionados por Deus ou por Jesus Cristo, Mc 3:14; Lc 6:13; Gl 1:1;
b) Tinham que ser testemunhas da vida de Cristo e, principalmente, de sua ressurreição, Jo 15:27; At 1:21-22; I Co 9:1;
c) Tinham que ter consciência que estavam sendo inspirados pelo Espírito de Deus em todo o seu ensino, oral e escrito, At 15:28; I Co 2:13, ITs 4:8; I Jo 5:9-12;
d) Tinham o poder de realizar milagres e o usaram em diversas ocasiões para referendar sua mensagem, II Co 12:12; Hb 2:4.[1]
Sendo assim, diante de todas essas prerrogativas entendemos, à luz da Palavra de Deus, que a sucessão apostólica pregada pela ICAR é antibíblica.
A outra falácia do argumento católico reside no fato de que eles postulam que Pedro era, como primeiro Papa, superior aos demais apóstolos. Entretanto, em II Co 11:5 e 12:11 vemos Paulo dizer que ele não é inferior aos apóstolos. Outra passagem bíblica que se encontra em Gl 2:11-14 mostra Paulo repreendendo a Pedro, o que não teria acontecido se este fosse inferior àquele.
O padre Vicente Wrosz ao falar que os pastores protestantes não tem nenhum poder maior que o dos seus liderados e por isso a ceia é celebrada com simples pão e simples vinho, está em primeiro lugar usando o modelo católico de clero e igreja para poder aferir a funcionalidade e poder confiados ao ministro protestante, contudo, ao fazer essa acusação eles estão se baseando numa hipotética sucessão apostólica que transforma o papa em um “semi-deus”. Mas podemos constatar, na argumentação que fiz acima, que essa visão católica não é procedente da Palavra de Deus. O texto de I Pe 2:5,9 desmonta qualquer articulação católica nesse sentido, pois mostra que Cristo nos fez sacerdotes e que o único que serve como mediador entre Deus e os homens é Jesus Cristo homem. I Tm 2:5

SANTA CEIA
Ao falar da santa ceia o padre Vicente Wrosz afirma que os protestantes celebram a ceia com “simples pão e com simples vinho”, nesse caso em especial ele acerta no que diz, pois para nós a santa ceia é sim um memorial e o pão e o vinho continuam sendo pão e vinho. A ICAR tenta argumentar a transubstanciação com base em Jo 6:50 e segtes na qual supostamente Jesus estava falando de forma literal a respeito do pão e do vinho. Entretanto “[...] é evidente que a primeira passagem é figurada como as de Jo 14:6; 15:1; 10:9, e outras e a ultima, compreendida literalmente, ensinaria mais do que o próprio católico romano estaria disposto a conceder [...]”.[2] E podemos ver claramente que no versículo 63 o Senhor está se referindo à uma questão espiritual. A outra questão que pesa contra a ICAR é o fato dela sustentar uma transubstanciação que não altera a estrutura molecular dos elementos da ceia, algo que é no mínimo irracional.
Jesus Cristo, após abençoar o sacramento, ainda o chamou de ‘o fruto da vide’ – não seu sangue literal ( veja Mt 26:29). Paulo também disse que o pão permanece pão ( I Co 11:27-28). [3]

A ICAR ainda postula que “este sacrifício de Jesus na cruz, (é), perpetuado em cada santa missa”. Entretanto, a Palavra de Deus nos diz em Hebreus 7:27; 9:12, 24-26, 10:12 e Rm 6:9-10 que o sacrifício de Jesus é perfeito e que não necessita de nenhum outro complemento.Ele morreu uma vez por todas uma única vez. A própria missa é um instrumento de acusação contra a ICAR, pois ela mesma diz que o sacrifício de Cristo na cruz é perpetuado em cada missa, e ela mesma pode ser caracterizada como um “pecado”, haja vista que nega a eficácia total do sacrifício de Cristo na cruz de uma vez por todas.

AS PROVAS BÍBLICAS

Ao se propor falar das provas bíblicas a ICAR aborda única e exclusivamente de modo literal e sendo assim o assunto acaba se remetendo à discussão proposta e abarcada acima. Sendo que o assunto principal desse desvio de interpretação é o fato da ICAR não abordar os textos bíblicos à luz de seus contextos e de usar uma hermenêutica frágil. Cristo nunca quis se referir literalmente e fisicamente nos elementos da ceia, e sim ( nos texto por eles propostos para comprovar sua tese) apresentar uma presença real, contudo espiritual na ceia.

CONCLUSÃO
Essa perspectiva da ICAR nos mostra que gradativamente os conceitos humanos foram tomando o lugar da Palavra de Deus no seio desta igreja. Essa é uma discussão que nos dá a certeza de que precisamos conhecer cada vez mais a Palavra do Senhor para que possamos diagnosticar e ir contra todo o ensinamento que coloque em xeque a verdade suprema do Evangelho.

Rev. Juilano Santana Quinto Soares



Bibliografia

  • BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. (5ª tiragem 1998. Campinas –SP. Luz Para o Caminho, 1998.)
  • STROSSMAYER. O Papado e a Infalibilidade. Minas Gerais: Igreja Evangélica Presbiteriana.
  • José do Nascimento Filho, Antônio. Fides Reformata – Volume 4 – Número 2, 1999.
  • HIDDERBOS, Herman. A Teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2005.
  • Bíblia 3.0 Módulo Avançado.
    _____http://www.monergismo.com/textos/catolicismo/Catolicismo_Romano_Schwertley.pdf

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[1] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. (5ª tiragem 1998. Campinas –SP. Luz Para o Caminho, 1998.), p. 589.
[2] Ibid, p.658
[3] http://www.monergismo.com/textos/catolicismo/Catolicismo_Romano_Schwertley.pdf

O homem é capaz de garantir a sua própria salvação?

Texto:

“(...) Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele (...)”.
Efésios 1:4

Introdução:

Dentre as muitas histórias que se conhece a respeito de Napoleão existe uma que é realmente impressionante. Um jovem oficial do exército imperial tinha sido condenado à morte. A mãe do soldado, derramando lágrimas aos pés do imperador, suplicou o perdão para o filho. Napoleão de pronto recusou alegando tratar-se de um reincidente, razão pela qual a justiça exigia a morte do réu.
Desesperada, a mãe, argumentando, disse-lhe: Eu não peço justiça para o meu filho, majestade. Eu peço misericórdia, senhor, misericórdia!
Replicou o monarca:
- Ele não merece misericórdia. Ela, porém insistiu dizendo:
- Eu sei, senhor. Se ele a merecesse, não seria misericórdia, seria justiça.
Tocando-lhe, porém o coração essa verdade, Napoleão respondeu:
- Eu farei misericórdia.

O homem é capaz de garantir a sua própria salvação?

Muito tem se ouvido falar a respeito de que o homem é um ponto quase que preponderante na garantia do processo de salvação e que toda a decisão de ser ou continuar salvo depende única e exclusivamente dos seus próprios esforços. Para muitos do século 21 Deus apenas exerce a sua Soberania na esfera da graça comum e se exime de qualquer atuação direta na graça salvadora. Dessa forma, o papel de Deus se restringe ao fato de Cristo ter cumprido com a exigência do sacrifício vicário, sendo agora dado ao homem a possibilidade de escolha, principalmente no que diz respeito a aceitar o “convite” à salvação. Mas para entender melhor essa situação se faz necessário definir as duas linhas de pensamento que se destacam nesse campo, as quais são: a predestinação condicional e a predestinação absoluta. Na predestinação condicional entende-se que Deus elege com base na presciência, analisando os atos da pessoa em questão e prevendo que ela aceitaria o evangelho. Na predestinação absoluta Deus é o agente responsável tanto por chamar como por manter a salvação do eleito. A grande maioria tem dificuldade em administrar o conceito de predestinação condicional porque observa nela uma contradição no que diz respeito à doutrina da soberania de Deus, pois ao afirmar que o homem é responsável direto pela manutenção e segurança de sua salvação ela coloca Deus como um mero espectador das ações e reações humanas frente à proposta de salvação. Na melhor das hipóteses ele seria soberano somente no sentido de ter concedido Cristo ao homem, o resto é por conta do homem. Outra percentagem já apresenta dificuldades em administrar o conceito da predestinação absoluta, pois essa tem como ponto pivotal a afirmação de que Deus elegeu pessoas na eternidade, sem levar em conta nenhum mérito nelas implícito, e que a essas e somente a essas é dado a salvação de uma maneira eficaz. Muitos afirmam não concordar com essa doutrina, disposta nesses termos, pois entendem que Deus não seria justo se salvasse a uns e a outros não.
No âmbito da teologia modernista a doutrina da predestinação não consegue se manter intacta no que diz respeito aos pilares conceituais que a caracterizam, pois alguns a rotulam de determinismo, outros a apresentam como uma predestinação para todos e outra parcela a reduzem a certos ofícios ou privilégios. Enfim, diante de tantos conceitos a respeito dessa doutrina será que podemos afirmar ter o ônus da prova? Será que Deus é ou não soberano no planejamento, na execução e na manutenção da salvação do homem?

Tema: As evidencias da ação eletiva de Deus na salvação do homem.


1) A evidencia da ação direta de Deus no resgate do homem:


“(...) e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos (...)”
Ef 2:5


A comparação que é feita no versículo de Efésios 2:5 não é apenas para mostrar que o homem estava separado de Deus, mas sim para dramatizar uma situação ainda mais complexa. Quando vemos no dia a dia ou até mesmo quando somos os protagonistas de uma situação de falta de compatibilidade afetiva entre duas pessoas, seja ela fruto de uma causa imediata ou não, percebemos que isso resultará em um progressivo afastamento entre as partes envolvidas e conseqüentemente esse afastamento, mas não necessariamente, dará lugar a um sentimento de inimizade. Numa situação como esta, dependendo da gravidade da causa, uma ou até mesmo ambas as partes podem considerar um ou outro morto, rompendo assim todo o relacionamento. Mas, mesmo nessa situação ainda há a possibilidade de qualquer uma das partes tomar a iniciativa de tentar resolver o problema e restabelecer a amizade. Já no que diz respeito à situação do homem em relação a Deus não há possibilidade alguma do homem ir a Deus, pois, essa situação de separação ocasionou sua morte espiritual diante de Deus, e sendo assim, no estado de morte, ele não pode demonstrar nenhuma afinidade ou intenção de ir a Deus. Em Rm 6:11 – 13 Paulo fala dessa situação numa linguagem sacramental em relação à doutrina do batismo e ele conclama o homem a se dar a Deus como “homens que foram trazidos da morte para vida”. Ou seja, fomos trazidos por Deus à vida. O termo “nekrous”, que é o termo que traduzido significa “morto” é usado aqui neste versículo com sentido figurativo ilustrando uma situação espiritual do homem e não uma situação física. O homem no estado de morte espiritual é impossibilitado de ir a Deus por causa do pecado original. Deus diante dessa situação age de uma maneira direta e eletiva na morte do homem, perdoando, regenerando e resgatando-o desse estado. Há também um impercilio ainda maior que a própria vontade do homem e que age sobre a sua vida, a Palavra chama esse impercilio de príncipe das trevas, o poder que atua sobre os filhos da desobediência, e sendo assim o homem que está morto nos delitos e pecados e ainda tem sobre si a ação do espírito que atua sobre os filhos da desobediência não tem possibilidade alguma de se voltar para Deus. Ele é escravo do diabo e sempre procurará o que é detestável a Deus. A única possibilidade desse homem ter vida eterna é se ele for resgatado dessa situação por Deus.

“O pecado de cada homem é o instrumento de seu castigo...”
Agostinho

Deus olha para a miséria do homem e em Cristo restaura-o à comunhão consigo. Ainda em Efésios 2:5 o Apostolo Paulo enfatiza a inabilidade do homem em relação à salvação mostrando que apenas em Cristo o homem pode receber a vida.

“Nenhum pecador jamais foi salvo por ter dado o coração a Jesus. Não somos salvos por termos dado, mas sim pelo que Deus deu.”
A. W. Pink


2) A evidência da ação de Deus revertendo a hostilidade do homem natural:


“Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar”.
Rm 8:7

O apostolo Paulo escreve esse trecho da Epístola aos Romanos fazendo uma contraposição entre o estado atual do crente e o anterior, e segue mostrando que em Cristo estamos livres da lei do pecado e da morte. Depois, no decorrer do versículo 9 ele ressalta aos crentes de Roma que eles já não mais viviam na carne. Entretanto, o ponto que eu quero ressaltar aqui é o fato do apostolo Paulo afirmar que quem está na carne é inimigo de Deus. Diante disso podemos entender que para o homem natural Deus é uma ameaça à sua má conduta, e sendo assim ele, em virtude da natureza depravada, não irá nunca querer se achegar a Deus. Tudo o que ele puder fazer para se manter longe ele fará. Ao analisar a situação por esse prisma, notamos que para o homem natural manifestar um desejo de buscar a Deus, algo que é contrario a sua natureza caída, ele tem que sofrer uma ação externa. O vírus da hostilidade precisa ser arrancado da vida do homem, pois de outra forma ele nunca poderia responder de uma maneira efetiva ao chamado de Deus. Deus, por meio da sua graça e misericórdia retira esse sentimento do coração do homem e reverte aquilo que antes era hostilidade em amor e devoção. O homem natural não quer e nem pode agradar a Deus, haja vista que as suas obras são obras da carne, e quanto a isso o próprio apostolo Paulo é enfático em dizer que tais homens não podem estar sujeitos à lei de Deus. Podemos ver esse quadro de hostilidade claramente pintado no coração e nas atitudes dos Dom Quixotes da nossa cultura, que preferem enfrentar moinhos de vento a aceitar que tudo o que eles tem vivido não é nada mais nada menos do que fruto da sua imaginação. Dom Quixote enfrentava moinhos de vento porque achava que eles fossem gigantes malfeitores, mas se por apenas um minuto passasse na mente dele um lampejo de lucidez, ele entenderia que não adiantava lutar contra os moinhos de vento, pois eles sempre seriam moinhos de vento. O homem natural, à semelhança da visão que Dom Quixote tinha a respeito dos moinhos, enxerga Deus por uma ótica diferente. Ele não vê Deus como um lugar no qual ele possa se refugiar, e sim como uma ameaça. Deus continuará sendo Deus, ainda que a hostilidade do homem natural o faça enxerga-lo de uma forma deturpada.
Deus age implacavelmente na regeneração do pecador!


3) A evidência de que a ação de Deus não é baseada nas boas obras:

“(...) que nos salvou e nos chamou com santa vocação ; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos (...)”
II Tm 1:9-10

“A graça de Deus não encontra homens aptos para a salvação, mas torna-os aptos a recebê-la”.
Agostinho


Nota-se que nesses versículos o apostolo Paulo apresenta a Timóteo a mensagem de que fomos chamados à santa vocação não por obras e sim pela livre e soberana graça de Deus, que nos elegeu antes dos tempos eternos. Essa afirmação nos leva a perceber que toda a teoria que afirma que Deus predestinou o homem com base na presciência, ou seja, que Deus predestinou porque anteviu que aquelas pessoas seriam propicias à salvação, não é algo condizente com a doutrina bíblica. O próprio Paulo diz que não fomos chamados em virtude das boas obras, mas ao contrário disso fomos, segundo a graça de Deus, determinados à salvação. Toda a história da salvação vem coadunar com essa afirmação, pois no período da lei o homem tentava cumprir toda ela, no entanto, sempre a infligia em alguma parte. A impossibilidade de ser tido como justo diante de Deus ficou latente, o homem precisava da graça de Deus para ser justificado, pois de outra forma continuaria envolto em rituais e normas que só destacariam ainda mais as suas debilidades.
Em Efésios 2:9 Paulo volta a ressaltar que a salvação não é decorrência das obras, e que a sua clara finalidade é enaltecer somente o nome do Senhor. Toda glória contida na salvação pertence única e exclusivamente a Deus.
Na sociedade na qual vivemos, onde todos os valores têm se tornado relativos e utilitaristas é de se esperar que ela não consiga conceber a idéia de que Deus não a serve e de que não cabe a ela decidir, em ultima instância, a respeito de sua salvação. Muitas dessas dificuldades de aceitar que Deus age na salvação sem levar em conta nenhum mérito humano, provem do conceito de mundo que a nossa sociedade tem. Para ela todas as questões que a dizem respeito precisam estar sob os seus auspícios e quando ela se depara com o fato de que “alguém” já decidiu por ela e que as “boas obras” que ela pratica não tem peso algum cria-se uma barreira para assimilar a questão. Entretanto, a Escritura Sagrada deixa claro que a base da salvação é a livre e soberana graça de Deus. As nossas melhores obras não passam de tentativas equivocadas de dar a Deus algo que não temos. As boas obras são decorrência da salvação, e precisam existir para evidenciar a legitimidade da nossa fé, mas não podem ser vistas como moeda de troca para com Deus.

Conclusão:

Assim como o jovem da ilustração a raça humana estava sentenciada à morte e não havia possibilidade alguma dela conseguir reverter essa realidade. A única saída seria poder ser assistida por um ato de misericórdia. Deus, munido de um ato soberano determina que alguns, de todos os que estavam justamente sentenciados, sejam assistidos pela sua misericórdia. E sendo assim, Ele resgata, reverte a inimizade e age sem levar em conta nenhum bem implícito no homem. Deus é implacavelmente soberano na salvação do homem.

Rev. Juliano Santana Quinto Soares


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Bibliografia


1. A Confissão de Fé de Westminster. Cultura Cristã. 2001. São Paulo.
2. Comentário do Novo Testamento – Romanos. William Hendriksen. Cultura Cristã. São Paulo, SP. 2001.
3. Confissão de Fé de Westminster Comentada.
4. Dicionário de Teologia do Novo Testamento.
5. Teologia Sistemática. Louis Berkhof. Cultura Cristã. 2001. São Paulo, SP.
6. Comentário do Novo Testamento – Efésios. William Hendriksen. Cultura Cristã. São Paulo, SP. 2001.
7. Comentário do Novo Testamento – I Timóteo, II Timóteo e Tito. William Hendriksen. Cultura Cristã. São Paulo, SP. 2001.
8. Bíblia de Estudo Vida.
9. Wright, Mc Gregor R.K., A Soberania Banida, Redenção para a cultura pós-moderna. Editora Cultura Cristã. Cambucí -SP.

Os obstáculos nos desafiam a sermos perseverantes

Texto: Josué 14: 1 - 15
Introdução:

Em uma Faculdade de medicina, certo professor cristão propôs à classe a seguinte situação: baseados nas circunstâncias que vou enumerar, que conselho dariam vocês a esta senhora, grávida do quinto filho?
O marido sofre de sífilis e ela de tuberculose. Seu primeiro filho nasceu cego.
O segundo morreu. O terceiro nasceu surdo. O quarto é tuberculoso e ela está pensando seriamente em abortar a Quinta gravidez.
Que caminho vocês a aconselhariam tomar?
Com base nestes fatos, a maioria dos alunos, não cristãos, concordou em que o aborto seria a melhor alternativa. O professor, então, disse aos alunos: Os que disseram "sim" à idéia do aborto, acabaram de matar o grande compositor Ludwig Van Beethoven, um dos maiores gênios da música de todos os tempos.

Narração:

O que diferencia um coração que confia em Deus de um coração que prefere confiar em sim mesmo é a forma com que ele enxerga a Deus.
Os israelitas vinham em busca da realização da promessa, e para isso permaneceram por vários anos vivendo como forasteiros, sofrendo em si a agressão do tempo e tendo que transpor os obstáculos impostos pela própria região na qual estavam inseridos. Apesar de todos os contratempos (rebeliões, insatisfações, medos e inseguranças) o povo se deparava com a providência Divina. Deus intervinha e manifestava a sua autoridade e a sua palavra, demonstrando claramente que quem executava cada passo da promessa era Ele. Não havia nada que pudesse fazer com que os projetos de Deus sofressem modificações e revisões. Deus fazia uso de todo o cenário para realizar os seus propósitos e até mesmo o mal, e mais especificamente o mal que se expressava por meio da natureza caída do homem, servia de instrumento para Deus demonstrar os seus atributos. Porém, apesar de tudo o que eles haviam presenciado e aprendido de Deus durante o período do deserto parece não ter sido praticado, pois ao serem enviados a espiarem a terra que Deus havia prometido dar-lhes, vemos dez dos doze espias serem tomados de medo e preferirem desistir da terra a lutar, pois não viam possibilidade alguma de transporem os obstáculos que lhes era oferecido. Contudo, em meio a tudo isso Deus levanta dois homens que não se deixaram intimidar diante das suas limitações, homens que entenderam que o conquistar a terra não cabia a eles mesmos, mas a Deus. E dentre esses dois homens destaco Calebe, um homem que aprendeu a confiar em Deus e que sabia que as promessas de Deus são vivas e que para vê-las acontecer basta crer e confiar em sua Palavra. Mesmo diante dos vários empecilhos que lhe foram impostos ele não deixou de enxergar o dia em que poderia tomar posse da terra da promessa. Ainda que precisasse transpor as limitações da sua própria visão e enxergar com os olhos de Deus, e decidindo agir dessa forma Calebe pode sonhar com toda certeza os planos de Deus na sua forma mais integra.

Tendo como base o exemplo de Calebe podemos afirmar que: "Os obstáculos nos desafiam a sermos perseverantes".

Diante disso podemos destacar três obstáculos enfrentados e vencidos por Calebe:

I. O obstáculo da incredulidade: v. 8a

“A incredulidade está na raiz de toda a nossa insegurança em relação às promessas de Deus.”
Mathew Henry

Todo o arraial Israelita temeu diante das informações trazidas pelos espias. O coração do povo se encheu de medo e de apreensão, dando-se por vencido ante a tão aterradora notícia. A incredulidade latente em seus corações os impedia de confiar na promessa de Deus. Em meio a toda essa pressão Calebe decide ir contra toda a animosidade do povo, decide tomar uma direção totalmente oposta a que o povo estava tomando.
Abraçar o que não vemos é difícil, mas Calebe tinha tanta fé de que aquela terra seria deles que o que antes era uma promessa distante agora passava a ser algo palpável. Abraçar o invisível já não era o problema. O problema agora era transpor a barreira levantada pelo seu próprio povo. Um povo que conhecia a promessa e que já havia tido a experiência de ver Deus agir de forma sobrenatural no meio deles, contudo no momento crucial tiraram os olhos de sobre Deus e os colocaram nas suas limitadas e frágeis habilidades. Entretanto a voz de Calebe fez-se ouvida em todo o arraial e toda a sua indignação foi externada. Ele não cria que a terra seria conquistada pela força física do povo. O que o impulsionava a afirmar tão veementemente que eles conquistariam aquela região era a Palavra de Deus dita por intermédio de Moisés. Era a promessa. Calebe não se deixou contaminar com a falta de fé do povo e nem abriu mão da sua confiança em Deus.


“Uma fé que gera resultados não está ligada ou alicerçada na minha palavra e sim na palavra dita por Deus.”

Os elementos e o ambiente podem ser diferentes hoje, porém vez por outra somos surpreendidos por situações nas quais temos que ancorar as nossas decisões ainda mais no terreno sólido da Palavra de Deus e trilhar o caminho desafiador da dependência total nEle. Sendo desafiados a andar ainda que não enxergando nada.


II. O obstáculo do tempo: v. 10


“A esperança é a mãe da paciência”
William Jenkin
O tempo comumente é o grande destruidor de sonhos, de expectativas e de esperanças. Para quem não tem certeza daquilo que quer, o tempo se torna uma espécie de doença que inutiliza sutilmente. É geralmente nesse período que as convicções são confrontadas. Calebe enfrentou-o com a mesma esperança que antes norteava a sua mente. Não viu o tempo como um minadouro de suas convicções, mas sim como uma oportunidade de confirmá-las. Calebe em toda essa situação foi sustentado por Deus.
No início do versículo 10 vemos ser relatado que quem o conservou em vida e lhe proporcionou as condições de chegar a ver o cumprimento da promessa foi Deus. Tanto estando como pano de fundo, ou como tela principal vemos que em toda a narração da história de Calebe em relação á terra, que Deus sempre esteve atuante. Ainda que o povo não fosse perceptível a isso e ainda que para o próprio Calebe isso não fosse compreensível em todos os momentos, mas ainda assim Deus continuava a descortinar o seu plano, usando para isso o seu povo.
Deus proveu de tal forma a vida de Calebe que ele mesmo chega a dizer, v. 10 e 11, que apesar do tempo as suas forças ainda continuavam as mesmas e que a sua disposição para sair ao campo de batalha não havia mudado com o passar do tempo.
O mesmo Deus que conservou a vida e a força de Calebe é o Deus a quem nós servimos hoje. Ele continua realizando feitos insondáveis. Quais têm sido as áreas das nossas vidas que tem sido alvo da preparação Divina? Ou será que nós temos nos recusado a aceitar o desafio de transpor os obstáculos?

III. O obstáculo que a própria terra da promessa oferecia: v. 12

Aos olhos de muitos, enfrentar as resistências que antecedem o recebimento de uma promessa já é difícil, agora imagine tê-las que enfrentar em sua forma mais concreta no momento em que você tem que tomar a posse definitiva. Calebe agora teria que lutar contra os gigantes e contra as fortalezas. Contudo, não notamos nada no texto que dê margem para dizermos que Calebe estava pesaroso ou triste, muito pelo contrario, quando lemos o texto vemos ser retratado um homem dinâmico que estava pronto a empenhar todas as suas forças na tomada da terra. Uma terra que havia sido o ponto nevrálgico de toda a rebelião israelita. Entretanto Calebe tinha certeza de que nenhum obstáculo que ela viesse a oferecer seria grande o bastante para ofuscar o teor da promessa de Deus. A “devoradora dos seus habitantes”, como os dez espias a classificaram, seria agora mais um quadro a ser colocado no museu do povo de Deus. As batalhas que o povo de Israel perdeu foram fruto da desobediência, porém todas as vezes que o povo voltou-se a Deus e enfrentou a batalha tendo Deus como o seu general a vitória foi alcançada. Calebe sabia disso e soube explorar essa verdade. Deus e a sua palavra eram os diferenciais dessa batalha e todo o cenário girava em torno disso. Calebe tinha certeza absoluta que Deus seria com ele para desapossá-los v. 12c.
O texto no v. 14 diz que a cidade passou a ser de Calebe por ele ter perseverado em seguir ao Senhor.
Um grande número de pessoas tem desistido dos seus sonhos ou de alguma promessa bíblica tão somente porque acham que crer e esperar já está de bom tamanho, não sabendo que na grande maioria das vezes para ter a posse do sonho tem que se empregar muito mais disposição e energia do que foi empregado de início. O crer e o esperar em uma escala de atitudes essenciais ocupam a base, porém a investida franca ocupa o topo.
Nunca desanime ao ver que você terá muito mais trabalho para conquistar um sonho, do que você teve para sonhá-lo. Economize forças e ânimo para o momento certo e saiba que a mola mestre do seu sucesso é Deus.

Conclusão:

Todos os exemplos que demos aqui nos mostram que se esses casos tivessem sido analisados por meio da pura e simples razão, hoje nós não teríamos acesso a tão grandes exemplos de pessoas que ultrapassaram os obstáculos que lhes foram propostos, e puderam contemplar o fruto da persistência. Grandes idéias e excelentes projetos às vezes são facilmente "abortados" quando as pessoas envolvidas se vêem diante de situações difíceis. Tudo exige perseverança, tenacidade e principalmente fé em Cristo Jesus, pois sempre deve haver a esperança de que tudo terminará bem. Qual tem sido a sua atitude diante dos obstáculos que surgem entre você e o seu sonho, entre você e a promessa de Deus para sua vida? Será que temos agido da mesma forma que Calebe ou temos agido como os dez espias?
Rev. Juliano Santana Quinto Soares

A justiça de Deus é o oxigênio do crente fiel

Texto: Lucas 18:1-8

Introdução:


Era tempo de guerra. Aprisionaram um soldado que regressara ao acampamento, vindo de uma mata próxima. Suspeito de estar mantendo contato com o inimigo, foi levado à presença do comandante.
- Que estava fazendo naquela mata, àquela hora da noite? - perguntou o oficial.
- Fui ali para orar por mim – respondeu o jovem.
Não convencido, o comandante ordenou desprezivamente que o jovem se ajoelhasse e orasse.
- Se tens habito de orar tanto por auxilio, faça-o agora.
Compreendendo que a acusação de traição poderia significar a morte, o jovem caiu de joelhos, e desabafou o coração a Deus. Foi patente, em vista de sua fervorosa conversa com o Senhor, que esta não era uma nova experiência em sua vida. Ao soltar ele as últimas palavras e abrir os olhos, viu uma nova expressão da fisionomia do comandante.
- Ergue-te – disse simplesmente o oficial – podes ir embora. Creio no que disseste. Do contrario, não poderias fazê-lo tão bem, agora.
A pratica da oração nos insere numa comunhão mais intima com Deus e dá poder à nossa vida, nos fazendo triunfar diante das adversidades.

Narrativa:

Perigo! Essa poderia ser a palavra usada para aqui resumir essa parábola de Lucas, pois o seu ponto de partida é a advertência. Jesus, tendo como público alvo os discípulos (17:22), faz uma exortação a respeito da conduta dos discípulos frente aos iminentes obstáculos que surgiriam no decorrer da caminhada cristã. E para tanto ele faz uso do recurso ilustrativo, ou parábola.
A ilustração orquestrada pelo exímio maestro Jesus traz em sua construção aspectos bastante interessantes. O fato de a parábola apresentar personagens em uma relação judicial nos desperta para o fato de que a justiça de Deus permeia toda a idéia da passagem. Entretanto, ao invés de ser recriada na parábola a objetividade e singularidade da justiça divina, vemos ser apresentado por Jesus exatamente o oposto.
O juiz na passagem está prefigurando a mediocridade e o que há de mais vil no homem, pois a justiça para ele não era objetiva, não estava baseada na verdade e sim em seus próprios interesses. A idéia que a parábola transmite ao falar a respeito dele nos mostra que o personagem retratava a figura de um juiz inescrupuloso, um homem sem caráter. E ao usar esse personagem Jesus estava retratando um quadro muito conhecido dos seus ouvintes originais, todos conheciam algum juiz que se encaixava nessas características. A falta de caráter dele impedia a justiça de ser feita. Em contrapartida Jesus apresenta a figura da viúva, que provavelmente buscava justiça em virtude de ter sido lesada financeiramente. Portanto, era uma viúva desamparada e pobre, que consequentemente não poderia pagar para que o juiz viesse a favorecê-la judicialmente, ainda que estando em busca do reconhecimento legal dos seus direitos. E diante desse quadro vemos Jesus ressaltar a insistência daquela mulher, que depois de muito insistir obteve, em seu favor, o veredicto final.
A lição que Jesus quer imprimir na mente dos seus ouvintes é que se um juiz sem caráter e corrupto respondeu às insistentes queixas daquela viúva, quanto mais Deus sendo reto e justo responderá as suplicas de seus filhos.
O alerta de Jesus quanto a uma oração perseverante diz respeito diretamente ao contexto de oração no âmbito da esperança da consumação do Reino. Os discípulos teriam que ser perseverantes e pacientes na presença de Deus, crendo que Ele faria justiça por eles.
Em Lucas 18:7 vemos ser apresentado o termo makroqumei= que, segundo uma abordagem exegética dá o sentido de julgamento e misericórdia. Kenneth Bailey diz que essa palavra aplica-se literalmente “(...) a pessoa que pode e deve afastar sua ira.” Pode ser traduzida como “remover a sua ira para bem distante”.

“Na makrotumein de Deus há agora possibilidade da existência de crentes diante de Deus... na confiança de que eles possam suplicar-lhes a sua justiça e graça”. (Horst, TDNT, IV, 381)

O cerne da parábola é a justiça de Deus no sentido da consumação do Reino Celestial.
Sendo assim podemos afirmar que: A justiça de Deus é o oxigênio do crente fiel.
Tendo a justiça de Deus como fator encorajador para a nossa oração, devemos ter algumas atitudes:

I. A atitude corajosa diante das adversidades:

Ao observarmos as palavras ditas por Jesus percebemos que incutida nelas havia uma exortação a respeito da conduta dos seus ouvintes em meio às pressões do mundo. Os discípulos de Jesus precisariam se mostrar convictos da fé e iminente consumação do Reino. Muitas dificuldades seriam apresentadas a eles. Mas a palavra de ordem era a de perseverar.
A parábola surge da necessidade de dramatizar o ensinamento de não olhar com receio às circunstâncias. A viúva, simbolizando o fiel, tinha todos os motivos para não querer prosseguir em virtude das circunstancias nas quais ela se encontrava. Uma viúva no contexto do Antigo Oriente Médio era alvo fácil para aproveitadores, isso quando tinha bens, e uma vez desprovida de bens acabava sendo marginalizada. Em outras palavras, as circunstancias não lhe eram propicias. Não obstante tinha a sua frente a pessoa do juiz que não apresentava muito incentivo as suas investidas. No entanto, o que causa a diferença numa situação como essa é a determinação, que por sua vez possui como pano de fundo a convicção. A convicção pode estar ancorada em duas máximas:

a. A convicção de que se terá êxito:

Essa convicção funciona diretamente na questão positiva. Parte do pressuposto de que o sucesso é certo, pois os meios responsáveis pela efetivação já foram garantidos. Quando se tem uma mola propulsora como essa fica muito mais difícil ceder terreno para que o desânimo lance suas bases e construa um monumento ao fracasso.

b. A convicção de que não se tem alternativa:

Esse tipo de convicção permeia a mente de quem, segue a diante, não porque quer, mas porque não vê outra saída. Sabe que terá um trabalho duro pela frente. Geralmente esse tipo de convicção não sustenta a pessoa até o fim da caminhada, pois lhe falta uma base de sustentação sólida, lhe falta determinação verdadeira. Essa convicção age diretamente na questão negativa. Dificilmente uma pessoa que é guiada por esse tipo de normatizador consegue transformar obstáculos em trampolins. Nós fomos chamados pra transformarmos obstáculos em trampolins! Não se deixar levar pela aparência intimidadora da adversidade é uma ordem claramente expressa por Jesus nessa passagem. O exemplo da viúva corrobora a mensagem contida nessa parábola. A mensagem de não se dobrar aos problemas e obstáculos que irão surgir, e que já tem surgido no decorrer da nossa caminhada em direção a consumação do Reino de Deus.
A gama de valores cristãos é confrontada a todo instante. A veracidade posta à prova. E diante desses desafios que o mundo nos impõe precisamos demonstrar serenidade e confiança. Certos de que a justiça de Deus será feita.

II. A atitude de exercitar a nossa fé em oração:

A questão da fé na vida de um cristão exerce uma influência tal qual a do ar para todos os seres vivos. Sem ela não produzimos, não desenvolvemos e o pior de tudo não vivemos.
A exortação a respeito de uma fé sadia e substanciosa é um item que nunca foi negligenciado no escopo da Palavra de Deus. A fé é um pré-requisito para se cultivar um relacionamento íntimo e intenso com Deus.


“A fé não pode crescer fora do ambiente da oração. A oração é seu habitat.”
J.C.P. Cockerton

A fé precisa ser cultivada e enriquecida sob a pratica incessante da oração, veículo pelo qual temos a possibilidade de nos comunicarmos mais diretamente com Deus. Jesus procurou demonstrar essa máxima durante todo o seu ministério. E assim vemos ser retratado na parábola elementos que nos evidenciam essa advertência e ensinamento de Jesus aos discípulos. A fé não poderia ser dissociada da oração em hipótese alguma. Jesus, fazendo uso da figura da viúva, demonstra essa prerrogativa descrevendo algumas atitudes tomadas por ela que, ainda que fictícia, dá mostras de elementos e atitudes reais, as quais precisam nortear a nossa vida. O elemento fé pode ser encontrado no texto na atitude da viúva em crer que por meio da sua insistência o juiz, ainda que sem escrúpulos, a iria atender. Todas as possíveis idas e vindas dela àquele fórum foram motivadas também pela certeza de que o seu pedido seria atendido. E diante dessa evidencia podemos encaixar a atitude dessa personagem criada por Jesus em Hebreus 11:1, onde vemos o escritor sagrado definir a prática da fé. O outro elemento encontrado na parábola é o da oração que é evidenciado pelas conversas que a mulher teve com o juiz até ser atendida.

“O alvo da oração é o ouvido de Deus”
C.H. Spurgeon

As nossas orações podem ser classificadas como “audiências com o juiz”, pois em oração adentramos a presença jurídica de Deus. E sendo assim, por meio de Cristo somos ouvidos por Ele. Relacionando-nos com Deus em oração temos a certeza de que as nossas orações não ficarão sem respostas, e mais objetivamente as orações feitas a favor da consumação do Reino. A oração a que a passagem se refere não é qualquer tipo de oração, o texto trata diretamente da oração que tem como pano de fundo a ardente expectativa dos eleitos de Deus em relação à segunda vinda de Cristo e consequentemente o fim do mundo nos moldes que agora conhecemos. Investir na oração é uma atitude sensata de quem tem um espírito visionário!
O que precisa nortear a mente do cristão é a certeza de que dias melhores virão dias em que o sonho, a promessa deixará de ser algo abstrato. Em oração, em conversa com Deus podemos nos manter vivos dentro dessa arena de gladiadores pós-modernos, onde somos considerados espetáculo para o mundo. Somos advertidos a contrastar com a situação cultivando uma profunda e vigorosa vida de oração. Deus responderá às suplicas daqueles que perseverarem em abrir o coração para Ele e em oração manter os seus olhos fitos no grande dia do Senhor. No entanto, crer e se manter fiel em meio a tanta distorção da verdade é um grande desafio.

Conclusão:

À semelhança daquele soldado e daquela viúva precisamos desenvolver uma intensa vida de oração diante de Deus, pois estamos inseridos em um mundo que frequentemente nos impõem obstáculos. Se não estivermos ancorados em Deus fatalmente seremos vitimas de naufrágios no decorrer da execução da nossa fé. Jesus nos deixou o alerta e nos mostrou como agirmos para não desanimarmos na esperança da redenção final. Entretanto, será que temos vivido de modo digno desse alerta?


Rev. Juliano Santana Quinto Soares


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Bibliografia
  • BRAGA, James. Como Preparar Mensagens Bíblicas. Vida: São Paulo. SP. 2002
  • BÍBLIA DE ESTUDO VIDA, Revista e atualizada.
  • ENTENDES O QUE LÊS? Gordon D. Fee e Douglas Stuart
  • BLANCHAR, John, Pérolas para a vida, Pensamentos para sermões e palestras. Edições Vida Nova, São Paulo-SP.
  • MINIDICIONÁRIO da língua portuguesa Aurélio.
  • CHAPELL, Bryan, Pregação Cristocêntrica. Editora Cultura Cristã. 1ª Edição 2002. São Paulo-SP.
  • COLETÂNEA DE ILUSTRAÇÕES, Almeida, Natanael de Barros. Editora Vida Nova. 1997, São Paulo – SP.
  • LUCAS, Introdução e Comentário, Morris, Leon L., Editora Vida Nova, 1997. São Paulo – SP.
  • AS PARÁBOLAS DE LUCAS, Bailey Kenneth, Editora Vida Nova, 2001, São Paulo – SP.
  • HENDRIKSEN, William, Comentário do Novo Testamento, Lucas vol 2. Editora Cultura Cristã, 2003. São Paulo – SP.
  • ANALISE Morfossintática minha (texto em grego).
  • Carvalho, Waldyr Luz, Novo Testamento Interlinear, Editora Cultura Cristã São Paulo.